Da barriga para a cabeça

Filho sai da barriga e vai para a cabeça, já dizia a minha santa mãezinha. Depois, nunca mais sai. Ele fica lá na nossa cabeça para o resto da vida. Acabaram-se as noites de sono, a tranquilidade quando eles saem a noite. Ficaram somente as preocupações.
Quando crianças, falamos: fica aqui, e eles têm que ficar. Não podem sair e a ordem é cumprida. Quando crescem, a gente vira sombra deles. É só um clic na chave e lá estamos nós atrás da porta como fantasmas. Eles chegam a exclamar: mãe, você ainda está acordada?Que susto vc me deu!!!!
Durante a noite, vemos todas as horas. O tique-taque do relógio não nos deixa sequer cochilar. Ele está alí para nos dizer que não é para dormir.
E fica aquela coisa martelando na sua cabeça: por onde será que ele(a) anda...com quem está...será que está bem...pq não telefona..????

Lá, quase o dia amanhecendo, o corpo não aguenta, embora o pensamento ainda esteja trabalhando, vc cochila e desperta assustada. Vai lá no quarto e às vezes o danadinho já está dormindo. Vem o alívio, mas já é de manhã e vc agora tem que trabalhar. Ou, o seu menino não chegou. Vem o aperto no coração, entra a angústia e vc começa a chamar todos os santos. O danado chega e ainda diz: Bom-dia, mãe. Vc já acordou? Bah!!! Acordou!!! Nem dormiu.
Quando namoram, a gente namora junto com eles. Terminam e vem o chororô das meninas. E temos que ficar mediando a situação.
Imaginem agora para quem está longe, saber que o seu controle remoto não tem poderes para controlá-los à distância. Imaginem se o seu filho chega e lhe diz ao comprar uma segunda moto: Mãe, estou muito feliz...imagina uma pessoa transbordando de felicidade..pois é, mãe...esta pessoa sou eu... Vc desaba? Eu desabei.


Depois de uns dias de felicidade por saber que ele tinha vendido a tal Vom Vom ( nome que ele deu àquela coisa chamada moto), ele aparece com outra e feliz da vida.

Todos os dias ao acordar, a minha primeira ação é ligar o computador e ficar alí, horas e horas de vigília para vê-lo online no msn. Eu chego a suspirar de alívio e agradecer a Deus por me conceder a graça de vê-lo alí. Quando ele entra, lá vou eu, mãe cricri, dizer: Bom-dia, meu filho!!
E agora, carnaval, sei que eles não me ligarão, que devem estar na farra, bebendo, namorando e felizes. Mas o meu pensamento está lá.

Seria isto que falam que é padecer no paraiso? Uma coisa é certa, a gente só entende os nossos pais, depois que passamos pelas mesmas aflições.
Mas, nada a fazer agora. Eles cresceram, são donos do próprio nariz.
Eu virei beata de tanto pedir a Deus por eles. Ai meu Deus!!!! Guie os passos daqueles danadinhos hoje e sempre.